Já vou avisando que essa resenha aqui não contém humor. Preferimos dessa feita fazer algo com um conteúdo sério, relevante, que em vez que te dar vontade de comer, vai instigar o seu mindset a empreender, investir em bitcoin talvez. Por isso será necessário uma breve contextualização.
Em 2006 você era rico. Até 2013 você comprava as coisas sem olhar o preço direito, viajava pra Porto Seguro e ia na Fiorenza sem dó, comia filé a parmigiana e tudo mais. Foi nesse tempo que toda a frescura do mundo começou. Curso de vinho, cervejaria artesanal, barbeiro com curso de gestão e também a batata frita congelada. Percebe que o fim do mundo começou aí?
Era o auge do programa Minha Casa Minha Vida e do Bolsa Família, programas de distribuição de renda que impulsionaram a economia interna Brasileira estimulando o consumo. O que a gente não sabia era que isso imprimiu consequências sérias na vida butequística setelagoana.
Valdir, empreendedor nato, havia montado um serviço de entregas expressas em veículos ciclomotores. Mas como ainda era 2006, poderia ser chamada tranquilamente de mototáxi sem perder valor de mercado. Uma promessa logística já tradicional na cidade. Porém, Valdir sofreu um acidente e, pensando em manter a renda sem andar de moto, resolveu lançar um churrasquinho. Ah trem!
89% das pessoas que empreendem abrem um churrasquinho ou um salão. São dados do Centro de Pesquisas Tireido Ku – CPTK, renomado instituto Japonês para a economia mundial. Seria o Valdir mais um player do mercado fadado ao fracasso? Mais um na multidão?
A resposta foi genial. Valdir foi o primeiro estabelecimento comercial no ramo de bitacas a conseguir o enquadramento num programa secreto de fomento econômico chamado: MGMV – Minha Gastrite Minha Vida. Um programa de aceleração do crescimento de úlceras e irritações estomacais, com lastro no poderoso mercado de medicamentos inibidores de bombas de potássio e que se escondia na sombra do desenvolvimento de pequenos negócios.
Isso explica o modus operandi do nosso guerreiro Valdir cuja principal característica é comercializar excelentes produtos por valores abaixo do mercado, claramente um caso de dumping doméstico que só se justifica no caso de ser subsidiado pelo Governo. Certamente essa operação dura até hoje, o que explica o churrasquinho custar R$3,00 e o latão de itaipava $4,00. A Clientela, que não tem nada com isso – a não ser o fato de pagar impostos par ao governo investir em valdires pelo brasil a fora – comemora!
Dizem que o atual presidente quer abrir a caixa preta do MGMV, mas teme que enfraqueça o seu governo, por se tratar da única coisa que o brasileiro se importa de verdade. Buteco bom e barato. Causaria comoção social, inflação e alta do dólar. Melhor manter isso daí, talkey!
Vamos à vaca fria… quer dizer… tá uma coisa que no Valdir não tem. O churrasquinho é sempre feito na hora, mas sai rapidão, com grande variedade de sabores e todos gostosos e baratos. Podem ser servidos nas variedades com molho e/ou com farinha. O mais caro, apontado com a especialidade da casa pelos clientes, e o medalhão de frango que custa R$4,00. Porque bacon é chique e caro.
O Valdir significa que se você tiver dez merréis no couro você toma um latão e come dois espetos. Se você fizer isso duas vezes por semana, você certamente vai ajudar o programa Minha Gastrite Minha Vida, mas também vai contribuir para a economia local que funciona em rede. Vejamos os cálculos complexos a seguir:
3 +3 +4=10
Pronto, agora convidamos um amigo nosso que não é de humanas para fazer uma regra de três. Ele é designer, então não dá para confiar 100%.
10 +10= 20 por semana x 4= 80 por mês.
954 (salário mínimo) —————— 100%
80 valor por mês_____________________x
x= 8,38%
Conclusão: com menos de 9% do seu salário mínimo você sai duas vezes por semana, come e bebe coisinhas deliciosas e ajuda a fazer um Brasil melhor.
A ambiente do Valdir é um clássico do buteco. Tudo zoado. Destaque para os ventiladores que compõem uma decoração fresquinha. Talvez seja o buteco que mais fortaleceu o mercado de impressão digital, uma vez que é quarado de banners por todo lado.
Um forte indício da da deslealdade desse bar em relação aos outros nessa dobradinha com o governo federal é que o Valdir bonifica seus clientes com pinga. Real que a pinga é gratuita. As garrafas estão tortas e escuras e não consegui ser forte o suficiente nessa tarde ensolada de sábado para experimenta-las. Mas fica esse alerta com gostinho de forte recomendação.
Outra coisa que nos chamou atenção foi o fato que possuir muitas propagandas de outros estabelecimentos. Ninguém faz propaganda de empresa em lugar ruim. Digo mais, as empresas só fazem propaganda em empresas melhores. Logo, o Valdir > que Lubri Rone , Fred Festas , Reconsete Retífica, JR despachante, dentre outras.
Temos visto muito por aí é que a turma que comanda os butecos não brinca em serviço. É difícil falar com o Valdir, que assovia e chupa cana ao mesmo tempo. Assa carne, repõe estoque, serve mesa, embala para viagem e o mais legal: fecha conta de cabeça. Ele nunca vai errar uma conta – essa é a sensação quando você pede para somar. O trem lotado, cada um se servindo e ele sabe exatamente o que você consumiu de cabeça. Para nós de humanas ele é tipo um X-Men. Um herói de jaleco.
Em termos de queimar o estambo, o Churrasquinho do Valdir é comedido. Mas se você lançar as pingas gratuitas, comer muito pão de alho, linguiça e duas Crystal, a gente garante 5 omeprazoizinhos para você. Mas no combo de 10 reais, você fica somente no nível 2 no Omeprazômetro. Faz até bem.
O fantástico espetinho do Valdir fica na R. Osvaldo Cruz, 317 – São Geraldo e funciona de segunda a sexta de 17h até o último cliente e sábado de 10h as 15h. Domingo ele não quer nem ver.
GastrôGastrite - O Manual da Baixa Gastronomia 