O Bar do Sr. Viaduto, uma tradição de 55 anos.

Um belo dia, o Saudoso Carlito, caminhando tranquilamente às margens da via férrea de Sete Lagoas, tropeçou numa ribanceira e rolou barranco abaixo. Empreendedor como nenhum outro, ele viu a necessidade de conscientizar o poder público sobre a construção de um viaduto naquele local e, para tal fim, resolveu: fundou o Bar do Viaduto.

Brincadeiras a parte, visitamos o Bar do Viaduto – um recanto da comida gordurosa e que nos alegra com seus tira gostos raiz há pelo menos 55 anos (segundo dados precisos nos passados pelo filho do fundador e atual comandante do estabelecimento, Anderson).

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Quem nunca comeu aqui, atire a primeira pedra… Mentira, quem nunca, vá… só vá

O Bar do Viaduto faz parte do tripé que faz a moralização de qualquer buteco mundo afora: tira gosto raiz, jogo de futebol incessantemente na TV e jukebox. Acreditem amigos, o bar do viaduto passa nesse quesito com louvor e ainda apresenta cerveja (e o copo) gelados, algo que agrada qualquer gastrôgastritico em missão.

Adentrar esse recinto é reconfortante como chegar em casa após um dia de trabalho e acariciar seu cachorro deitado no sofá vendo a reprise de Barreira de Bacaxá x Sampaio Correia do Rio. Você sente que pertence aquele lugar. Para facilitar a vida dos leitores, segue abaixo uma checklist dos itens obrigatórios/opcionais que todo Baixa Gastronomia REAL precisa ter:

√ Tira gosto que ataca deliberadamente o fígado e provoca refluxo

√ Utilidade Pública

√ Balcão com espelho para embelezamento do cliente

√ Farta opção de glicose pro cliente que passar da conta no álcool

√ Jukebox

√ TV passando jogo de futebol (ao vivo opcional, geralmente reprise)

√ Jogos de Azar (legais ou não)

√ Prateleira elevada com VÁRIAS garrafas da mesma bebida

√ Placas que normatizam ironicamente o fiado

√ Mensagens edificantes

√ Ausência de Cardápio

√ Frequentadores assíduos e peculiares (sim, já usamos essa palavra)

√ Extintor de incêndio/alarme (opcional)

√ Foto do fundador

√ Open bar de estomazil/omeprazol (sonho nosso)

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Como vocês podem ver, nossa lista é extensa e bem rigorosa quanto aos padrões, que podem mudar de estabelecimento para estabelecimento ou conforme a quantidade de álcool em nosso organismo.

Entrando no Bar do Viaduto, além das teias de aranha seculares, o que vemos é a simpática garçonete Valéria, que com um sorriso já nos pergunta se somos de outra cidade, já que ela conhece TODOS os frequentadores. Memória de elefante, mais 10 pontos pra Grifinória.

Ela nos traz um copo gelado e nos convida a conhecer o jardim dos prazeres: a estufa, pros menos empolgados em aumentar o ácido úrico. De cara o famoso Pão Molhado, um clássico da culinária viadutense. O que dizer de um tira gosto que promete apenas caldo, mas vem com a borra de todas as panelas. Aquilo é uma orgia! Pedaços de carne cozida, joelho de porco, almondega, costela e outros animais não identificados lutando pra explodirem de alegria no seu paladar. Amigos, não percam por nada.

Como estávamos de caravana, os pedidos foram fluindo e não tardou a chegar na nossa mesa o famoso “Juêi” de Porco. Curiosamente menos gorduroso que esperávamos e desmanchando como de praxe, o joelho veio no ponto da pimenta e do tempero, começamos bem, mesmo sentindo a falta de um pãozinho descansado após ter adormecido.

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A fézinha é toda nossa. A água com gás apareceu e ninguém sabe como.

Sempre que falamos de estabelecimentos da baixa gastronomia falamos dos quesitos necessários para esse credenciamento, porém, esquecemos de formar consumidores para apreciar o ambiente abafado, barulhento e concorrido como mecanismo para otimizar o prazer da comida de rua brasileira.

Se pagarem pra gente, comemos hambúrguer artesanal de picanha com não-sei-o-que-lá acompanhado de picles de funcho e maionese dijon de cúrcuma, porém, nossa primeira obrigação é seguir o “Módulo I do Curso de Butequeiro Raíz” e solicitar imediatamente um exemplar do maior sucesso gastronômico do ultimo milênio: a carne cozida (sonoplastia de anjos ao fundo dizendo Óóóóóóóóóóóóóó).

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Pedimos desculpas por invadir a sua internet e te obrigar a ver isso sem poder comer. Desculpas dobradas se for hora do almoço e triplicadas se ainda não tiver comido. Mals aê galera.

O acompanhamento de cebola é garantido por lei desde 1985 quando clientes irados foram às ruas solicitar que toda carne cozida (apertada ou ao molho) não fosse servida solitária, um episódio que ficou conhecido como “Revolta da Carne Cozida”.

O que nos surpreendeu aqui foi o pimentão que junto com a textura derretida da carne, nos fez querer invadir a cozinha para usar a borra do fundo da panela para fazer ali mesmo uma farofa e comer com a mão. NÃO FIZEMOS.

A nota triste mais uma vez foi a  falta do pão dormido acompanhando os pratos no Bar do Viaduto, um elemento mais que decorativo, mas que permeia as lembranças butequísiticas de toda uma geração. Esperamos com temor que a turba não necessite voltar às ruas para lutar por seus direitos. Sabe-se lá o quão devastador seria uma “Revolução do Pãozinho de Acompanhamento”. Na falta dele, ninguém se fez de rogado, tome farinha.

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3 vivas para esse porco, que costelinha senhores, que costelinha.

A costelinha foi nossa próxima pedida, com tanta gente na mesa e pedindo ao mesmo tempo, confesso que me diverti muito com a carne cozida até rolar um olhar sedutor desse pedaço de carne suína com ossos. Segue a linha da casa, pimentinha boa, desmanchando, sem pãozinho e com farinha pra compensar.

Como estávamos em Caravana e ainda visitaríamos mais 2 bares, não dava pra esmerar e comer todo o arsenal do Bar do Viaduto, então pra finalizar nossa visita, pedimos o “Módulo II do Curso de Butequeiro Raiz”, a dobradinha.

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Bonita não tá, mas pensa num trem bão!

Chega a “arrupiar” quando chega na sua mesa uma peça de dobradinha. Nada daquelas porções com vários pedaços, UM SÓ CARA. É pra isso que saímos de casa diariamente, pra sermos presenteados com esse tipo de experiência gastronômica.

Amigos, o consenso foi nada menos que SEM DEFEITO, macia, bem cozida, cheiro convidativo e sabor inigualável. O melhor disparado. Não percam a oportunidade de prová-la, vale a pena.

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Preço acessível, comanda de papel reaproveitado. Comida sustentável.

De barriga longe de estar cheia, pagamos a conta que saiu por R$68,00. Um valor bem em conta pra dividir pra galera. Valeu a pena visitar o Bar do Viaduto. Despedimos e deixamos pra traz uma tia que bebia desconsoladamente sozinha com cara de “meu deus quê isso”, o proprietário educado e gente boa que fez bem o papel do anfitrião deixando a galera totalmente a vontade pra voltar e a garçonete, simpática e bem rápida que diz que “temos” que voltar, comendo, afinal ninguém é de ferro.

Já eu, me dou por feliz por ter segurado a turba e não ter acontecido a “Revolução do Pãozinho de Acompanhamento”, uma vitória dada a importância da pauta em discussão.

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A turba pós alimentação, com os ânimos acalmados, feliz por não ter eclodido uma guerra.

Nunca antes na história desse país um post recebeu o prêmio de 5 omeprazóis. Dessa vez o omeprazômetro bateu nas alturas e foi bruto no outro dia. Ressaca de comida, ardume na garganta e figado implorando pra esperar 1 mês pra próxima. Talvez seja o fato da caravana ter ido em 3 butecos ou por ser pesado mesmo, na duvida, cravamos um 5 omeprazóis.

Ao Bar do Viaduto só temos duas palavras: Para Béns! Vocês inauguraram o topo do mundo. Voltaremos com certeza!

 

O Bar do Viaduto fica na  Rua Antônio Olinto, 1154 – Centro, Sete Lagoas – MG. Exatamente na esquina com a Rua Amazonas. 

Tem um restaurante/lanchonete que deseja ver aqui no GastrôGastrite?

Nos indique nos comentários que iremos visitar.

13 comentários em “O Bar do Sr. Viaduto, uma tradição de 55 anos.”

  1. Nuuuuuuu, fiquei com água na boca. E o seu texto é também uma delicia. Muito divertido. Mas ainda bem que ficaram só no omeprazol. Imagina se fosse outro remédio! Rsss.

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  2. Pessoal!
    Que maravilha! Estou saboreando até agora, as comidas e tb o texto de muita criatividade e competência. Uma delícia de texto.

    Que continuem com o Gastrogastrite pra gente saborear esses tradicionalissimos pontos gastronômicos de Sete Lagoas e, os textos cheios de inteligência criativa.

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