Pereirinha, o apelão

Quando eu era novo e brincava pelas ruas da pacata João Pinheiro (inocente que só, nem sabia o que era omeprazol), a gente costumava chamar de apelão o dono da bola que pegava ela e ia embora quando seu time estava perdendo.
Isso porque ninguém conhecia o Pereirinha do Pereirinha Lanches. O que dizer de um senhor que faz sanduiches com pães de 25, 30 e módicos 60 centímetros e te serve em uma embalagem de pizza (isso mesmo, uma embalagem de pizza)? Simples: O cara é apelão MESMO.

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Serenidade no olhar de quem vai entupir suas artérias

Eu, um amante devotado da baixa gastronomia, conheço o Pereirinha há um bom tempo, desde antes do surgimento apocalíptico dos sachês de ketchup e maionese (um evento que mudou o mundo, traumatizou muitos seres sem destreza e deixou muito gordo desamparado mundo afora). Desde sempre ele marcou nossos corações com podrões de qualidade com muito, mas muito pernil, e sua marca registrada: o copo grátis de suco Vilma sabor Salada de Fruta.

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Infelizmente o suco acabou antes da foto

Depois de muito tempo sem comer seus entope-veia, resolvemos fazer uma visita de cortesia acompanhados da galera do Alligators Rugby, afinal, se é pra comer, tem que destruir. De cara já vemos a mudança, antes estacionado na esquina da rua Guimarães Rosa com a Avenida Santa Juliana, agora o trailer (xô Food Truck, aqui é gordo raiz) do Pereirinha fica fixo na Guimarães Rosa um pouco abaixo do local tradicional.

A moralização começa na placa de madeira e numa lousa adaptada. Você sabe que vai comer alguma coisa que literalmente vai deixar sua mão engordurada nesse estabelecimento que, pela indicação, ainda serve açaí.

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Ao entrar na lanchonete, de cara percebemos o quanto o cara é foda, pois além de ser patrocinado, ele ainda é artista e pintas seus quadros quando não está atiçando a gastrite alheia. As mesas e cadeiras, de madeira rústica e de demolição, cada uma num formato e tamanho diferentes, mostram que ali é um lugar fora do padrão, haja visto a calculadora antiga largada pelo balcão, o cartaz que notifica o troco máximo que ele pode dar, o relógio de pinguim ainda na caixa e o violão encostado na prateleira, que o Dono garante nunca ter tocado.

Bom de lábia, Pereirinha já nos apresenta no menu todo seu arsenal de engorda. Em tempos de menus coloridos e cheios de nomes “afrufrusados”, receber uma folha A4, colada com papel contact numa pasta de papel, inspira credibilidade. Num primeiro momento causa confusão, pois os podrões não estão organizados em ordem de tamanho e sim por ingrediente: hambúrguer, pernil, cachorro quente e outros. “Michido”, “Mata Fome”, “Riquinho”, “Pão com Pão” e “Cachorro Pernil” são algumas das iguarias servidas. Ponto pro bom humor.

Todo mundo sabe que gordo quando come sanduíche, vai direto no maior pra evitar problemas na escolha. Ao deparar com a categoria “Especiais”, você deixa de se sentir perdido e passa a apreciar as maravilhas culinárias desse mestre da arte de lambrecar de gordura as nossas mãos.


Quando digo que o cara é apelão, vocês não entendem. Mas o que dizer de um cara que coloca um podrão numa massa de pizza ou em um pão de 60 centímetros (tem que ligar pra encomendar, afinal ninguém tem um pão desse tamanho guardado)? Isso se chama ousadia.

Pedido feito, vamos provar o Big Sanduba: Pão Redondo 25cm, 3 bifes (isso mesmo, 3), 2 ovos, pernil (muito), bacon, carne moída, presunto, alface, milho e batata. Um podrão desses alimenta uma família por R$33,00 e nego ai indo comer no MC Donald’s. É uma inversão de valores na sociedade brasileira.

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Nariz pra fora da mascara, ele também quer sentir esse aroma.
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Ia ser uma legenda linda, mas essa imagem me deixa sem rumo.
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Sério cara, não sei o que dizer.

15 minutos de espera e ansiedade. Aparece o chapeiro acompanhado desse gigante em forma de podrão, servido em pão de milho, partido em 4 (acredito que ele duvide que uma pessoa só coma), servido em uma caixa de pizza e SEM SALADA. Meus amigos, esse homem é um visionário.

Quem acha que quando o podrão chega todos os problemas foram resolvidos, obviamente nunca comeu um Big Sanduba. Foram necessários 3 físicos teóricos (1 deles formado pelo MIT), 2 engenheiros do ITA, 1 nutricionista, 1 dentista, 5 gordos, 1 casal de biólogos, uma bibliotecária, um comunicador social especializado em marketing, 1 fotógrafo, 1 segunda linha tio do Will Smith, alguns universitários e 4 horas de discussão sobre como comer esse tolosco gigante. E NÃO HOUVE CONSENSO.

Decidimos seguir o conselho de um especialista: Aperta com as duas mãos, abre o máximo a boca, reza e vai com tudo. Algo mais ou menos assim:

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Este é o Marcelino, o rapaz usa botina pra jogar Rugby e não teme nada.
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Seu olhar de lascívia para o Big Sanduba demonstra suas más intenções.
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E lá se vai mais um podrão.

De cara sentimos o sabor das carnes do porco assim que você morde. Não sabemos porque o Pereirinha coloca pernil em tudo, mas gostamos (pensa num trem bem temperado). O pão de milho surpreende pelo sabor, mas é um pouco enjoativo no final (nada de significativo, já que poucos chegam ao fim sozinhos).

A pimenta está na dose certa e realça mais ainda o sabor desse monstro em forma de comida e por mais incrível que pareça, ele só pinga gordura na sua mão e não diretamente no seu fígado. Sobre isso, lemos em um fórum sombrio nos confins da Deep Web, que além de apelão o nosso anfitrião também é alquimista. Não espalhem.

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O sorriso sincero de quem já sentiu a pontada no fígado.

Embora pesado, o bitelo desce bem e encarei bem o desafio comendo 3/4 do sanduíche saí sem estar com a sensação de ter comido um boi recheado com um porco recheado com um carneiro recheado com uma galinha recheada com uma codorna recheada com farofa e ovo.

Alguns universitários dividiram entre si e um guerreiro levou metade pra casa. Outros arregaram e pediram algo menor, no fim das contas o saldo foi uma confraternização de gastrite e azia acompanhada de odes ao bacon e pernil.

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“Aqui tem coraije”. BERRANTEIRO, Serjão

Para finalizar, nada melhor que um doce de “taio” como é conhecido na já citada João Pinheiro. Agora só nos restava assentar o rango e preparar para a reação estomacal.

Por incrível que pareça ela veio não tão bruta como esperada. O uso sanitário foi o esperado e a gastrite foi resolvida com o combo estomazil + omeprazol e a quantidade de pesadelos foi moderada diante da fartura das bocadas (começamos o desafio as 22:00, imagina a porrada). Leva 4 no omeprazômetro, uma vitória já que antes do desafio acreditávamos que seria um 5 com louvor.

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Vocês devem ter percebido que algo foi gourmetizado no GastrôGastrite. Pois é, recebemos nosso primeiro apoiador. Essas fotos excepcionais foram tiradas pelo Davi Mello, um grande amigo e apreciador da mais alta baixa gastronomia. Ele resolveu nos acompanhar nessa empreitada e nos brindar com cliques que realçam mais ainda a beleza dos podrões e o tamanho das nossas panças. A ele o nosso grande agradecimento.

Quem quiser conhecer mais o trabalho dele, o Facebook dele é Davi Mello – Fotografia  e o site dele é o www.davimello.com.br

Vejam mais fotos:

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O Pererinha Lanches fica na Avenida Guimarães Rosa, próximo ao número 300, no bairro Braz Filizola, Sete Lagoas – MG,

 

Tem um restaurante/lanchonete que deseja ver aqui no GastrôGastrite, nos indique nos comentários que iremos visitar.

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